Pierre-Joseph Proudhon (1809 ~ 1865):

" Que nos falta para realizarmos a obra que nos foi confiada? Uma só coisa: A prática revolucionária!... O que caracteriza a prática revolucionária é que ela já não procede por pormenor e diversidade, ou por transições imperceptíveis, mas por simplificações e por saltos."

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terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Proudhon:

Sobre alguns erros...


por Júlio Carrapato

Proudhon, como se sabe, foi deputado, em 1848.

Pode-se porém dizer, sem risco de desmentido sério e como circunstância atenuante, que, tanto o movimento anarquista quanto o movimento operário, ainda estava na infância da arte e o socialista libertário Francês ainda não terminara a sua terapia pessoal, para ficar completamente vacinado.

Todavia, logo em 1849, escreve três violentos artigos contra o príncipe-presidente, o futuro imperador Napoleão III, que lhe valem três anos de prisão em Sainte-Pélagie. Aí escreverá as «Confissões de um revolucionário», onde dirá:

«É preciso ter-se vivido nessa câmara isolada das realidades a que se chama Assembléia Nacional, para se conceber a que ponto os homens que mais completamente ignoram o estado de um país, são quase sempre os que o representam».

E em 1864, um ano antes de morrer, instado para que desse a sua opinião sobre as candidaturas puramente operárias e respondesse ao chamado manifesto dos sessenta (operários); retorquir-lhes-á, com genuína tolerância, mas combatendo a sua ingenuidade, que, a despeito de reconhecer aos operários o direito a uma representação própria, não podia esquecer que o sistema representativo era uma falácia e que o que achava correcto era a abstenção pura e simples.

O que sublinha bem o espírito luciferino de Proudhon e tanto agradava a Bakunine e tanto nos apraz é não obstante, a sua magnifica definição de governado – definição que figura em todas as antologias anarquistas – e a sua compreensão do que é, na realidade, o governo do homem pelo homem:

«Oh, personalidade humana! Como é possível que durante sessenta séculos tenhas vivido miseravelmente nesta abjeção! Dizes-te santa e sagrada, e não passas da prostituta, infatigável, gratuita, dos teus lacaios, dos teus monges e dos teus soldados de velha guarda.

Sabê-lo e sofres com isso!

Ser governado é ser guardado à vista, inspecionado, espiado, dirigido, legislado, regulamentado, arrumado, doutrinado, pregado, controlado, estimado, apreciado, censurado, mandado, por seres que não têm nem o título, nem a ciência, nem a virtude.

Ser governado é ser, a cada operação , a cada transação, a cada movimento, notado, registrado, recenseado, tarifado, selado, medido, avaliado, patenteado, licenciado, autorizado, apostilado, admoestado, impedido, reformado, reeducado, corrigido.

É, com o pretexto de utilidade pública, e em nome do interesse geral, ser pedido em empréstimo, exercitado, espoliado, explorado, monopolizado, abalado, pressionado, mistificado, roubado; depois, à menor resistência, à primeira palavra de queixa, reprimido, multado, injuriado, vexado, encurralado, maltratado, batido, desarmado, garrotado, aprisionado, fuzilado, metralhado, julgado, condenado, deportado, sacrificado, vendido, traído e, ainda por cima, jogado, escarnecido, ultrajado, desonrado.

Eis o governo, eis a sua justiça, eis a sua moral! E dizer que há entre nós democratas que pretendem que o governo tem coisas boas; socialistas que apoiam, em nome da liberdade, da igualdade e da fraternidade, esta ignomínia; proletários que se candidatam à presidência da República! Hipocrisia!...»

Outro aspecto da complexidade da teoria proudhoniana: Proudhon detestava a propriedade visceralmente e proclamava que «a propriedade é o roubo» ou que «a propriedade é o direito ao lucro inesperado». Além disso, enunciava dez propósitos sobre o que considerava a sua «impossibilidade» e nocividade social.

Contudo, ao analisar a sorte dos pequenos proprietários – sem títulos de nobreza nem diplomas universitários –, não podia deixar de se opor a que esses desgraçados, ainda por cima, fossem expropriados.

Não se sentia obrigado a dar qualquer caução à concentração capitalista e, por conseguinte, falava também dessa «propriedade-liberdade», autêntica força de desconcentração.

No mesmo sentido, a maioria dos anarquistas sempre se opôs a «colectivizações», isto é, estatizações compulsivas, evitando as catástrofes que a União Soviética e outros países «socialistas» conheceram.

Que se chame, por causa disto, «pequeno-burguês» a Proudhon, é evidentemente uma enormidade vexatória, digna de um burro albardado, ou uma burrice linearmente dialéctica de quem só compreende a linguagem do ferro contra ferro e não pode entender o autêntico pluralismo.

Já mais grave é a relutância de Proudhon em reconhecer nas greves a forma normal de relacionamento entre capital e trabalho, chegando até a desaprová-las expressamente.

No seu íntimo, tal como Fourier, receava as revoluções – embora as apoiasse quando eclodiam e dissesse, muito libertariamente, que não eram obra de ninguém em especial – tantas vezes seguidas de reações e de contra-revoluções e procurava evitar os afrontamentos apocalípticos entre patrões e a sua tropa de choque, por um lado, e assalariados, por outro, até porque o desfecho era incerto e seria condenável empurrar alguém para o desconhecido.

Além disso, ao promover a idéia autogestionária, o associativismo operário, e o arranque construtivo da sociedade futura, a partir da oficina e das unidades produtivas em geral, pensava encaminhar tudo assim, mais seguramente, de maneira mais gradualista, para o desfecho desejado.

A história, de qualquer forma, ainda não decidiu quem estava certo, se o gradualismo, se o insurrecionalismo, se, muito possivelmente, os dois, conquanto chegue sempre o momento em que é necessário afrontar directamente o Estado e o Capital.

E de nada servirá pôr paninhos quentes ou iludir a questão, porque o que nós queremos, a anarquia, é objectiva e redundantemente revolucionária e está em manifesta e insolúvel contradição com o que domina e predomina no mundo que conhecemos.

Nenhum destes aspectos mais controversos, porém, impediu Proudhon de ser uma das futuras referências para todo o movimento sindicalista revolucionário ou anarco-sindicalista, o qual nunca receou as greves, com ou sem pré-aviso, «políticas» ou econômicas, revolucionárias ou alimentares, qualitativas ou quantitativas, gerais ou parciais, com ou sem ocupação dos locais de trabalho, activas ou passivas, expropriadoras ou não...

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