Pierre-Joseph Proudhon (1809 ~ 1865):

" Que nos falta para realizarmos a obra que nos foi confiada? Uma só coisa: A prática revolucionária!... O que caracteriza a prática revolucionária é que ela já não procede por pormenor e diversidade, ou por transições imperceptíveis, mas por simplificações e por saltos."

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quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Proudhon [2]

por Gaston Leval

Tais eram os conselhos de orientação geral. Mas, sendo incitado a isso pelas circunstâncias, Proudhon também sabia preconizar normas precisas respondendo a uma dada situação.

Eis o que ele escrevia em 4 de maio de 1848, diante da incapacidade de república burguesa que acabava de ser proclamada, e antes que eclodisse a insurreição de junho:

“Que um comitê provisório seja instituído em Paris, para a organização da troca, do crédito e da circulação entre os trabalhadores;

Que esse comitê se ponha em relação com comitês semelhantes estabelecidos nas principais cidades;

Que pelos cuidados desses comitês, seja formada uma representação, imperium in império, diante da representação burguesa (2);

Que o germe da nova sociedade seja lançado no meio da sociedade antiga;

Que a carta do trabalho seja imediatamente posta na ordem do dia, e os principais artigos definidos no mais breve prazo;

Que as bases do governo republicano sejam definidas, e poderes especiais concedidos para esse fim aos mandatários dos trabalhadores”.

Como vemos, a aplicação dessas concepções teria representado uma verdadeira revolução social; e isso ultrapassava o âmbito da posse individual dos meios de produção e de troca, na qual se aprouve e se comprouve a encerrar o pensamento proudhoniano.

E dez anos mais tarde, em seu livro Idée générale de la Révolution au XIX siècle, Proudhon reafirmava que o papel dos trabalhadores era fundar o socialismo; ele descrevia o processo dessa empreitada da qual conhecia a complexidade, e esforçava-se para dar aos trabalhadores o indispensável sentido das responsabilidades:

“Enfim aparecem as companhias operárias, autênticos exércitos da revolução, onde o trabalhador, assim como o soldado no batalhão, manobra com a precisão de suas máquinas:

onde milhares de vontades, inteligentes e orgulhosas, fundem-se numa vontade superior como os braços que elas animam engendram por seu concerto numa força coletiva maior que sua própria multitude” (3)

As tentativas práticas. Proudhon não se contentou em afirmar princípios e objetivos, nem em preconizar meios. Ele também fez tentativas construtivas. Podemos discutir o valor delas (sob a condição de situar-se no tempo em que elas foram lançadas), ou as modalidades.

O importante, para o objetivo que buscamos ao escrever este curto ensaio, é mostrar a perseverança de seu esforço na busca das realizações práticas.

A tentativa mais conhecida foi a criação do Banco de Trocas, e sobretudo o Banco do Povo.Esse banco devia assegurar gratuitamente o crédito (idéia cara a Proudhon, e que ele exigiu até mesmo pela via legislativa). Crédito que devia favorecer as trocas entre produtores, “a prestação de capitais e o desconto dos valores não podendo gerar nenhum juro”.

Tratava-se, em suma, de tornar os produtores senhores das atividades econômicas que, após a produção, constituíam, na ordem capitalista, fontes de enriquecimento individual obtido pela exploração organizada da massa dos trabalhadores.

A possibilidade de obter o crédito gratuito permitiria aos aderentes liberar-se do julgo do patronato e do capitalismo. A morda tradicional transformava-se em bônus de circulação.

segue...

notas:

(2) - Não esqueçamos que no Palais du Luxembourg tinham então assento as grandes personalidades do socialismo autoritário, que queriam instaurar suas reformas por meio de legislação. Sabemos como ele fracassou. A concepção proudhoniana ia muito mais longe. Mas os operários não estavam em condições de compreende-la.

(3) – Vemos aqui , de passagem, reafirmada a superioridade do trabalho coletivo, que Proudhon, por primeiro, havia exposto, desde 1840, em O que é a propriedade?, e do qual Marx falará, por sua vez, em O Capital, publicado em 1868.

fonte:

Este texto foi retirado do Livro Autogestão e Anarquismo”, escrito por Gaston Leval (Concepções construtivas do Socialismo Libertário), Ed. Imaginário.

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