
E proudhon suspeita Marx de uma certa má fé:
“Cabe unicamente ao leitor acreditar que é Marx que, após me ter lido, lamenta pensar como eu. Que homem!”.
Mas, sobre o âmago, sobre a concepção da dialética, Proudhon não cede nada e apercebe-se bem do desacordo essencial. Marx coloca o princípio de que a dialética só pode ser histórica:
o estudo das categorias econômicas não pode ser feito, diz ele, “segundo a ordem dos tempos”.
Abandonar este método histórico é, necessariamente, voltar ao idealismo. Marx retoma os temas da Ideologia Alemã e as teses gerais do materialismo histórico:
fazer “a história real”, é analisar como as relações sociais são “produzidas pelos homens”. “As relações sociais estão intimamente ligadas às forças produtivas”... e “os homens produzem também os princípios, as idéias, as categorias, conformes às suas relações sociais”.
Sobre este ponto fundamental que compromete por sua vez a concepção da dialética, a relação à história e o determinismo histórico, Proudhon reage violentamente. Em face desta crítica de Marx, escreve: “... é precisamente o que digo. A sociedade produz as Leis e os Materiais de sua experiência”.
Estamos aqui no centro da oposição entre duas concepções da dialética:
entre duas maneiras firmemente opostas de interpretar as contradições.
Marx não pára de censurar a Proudhon o negligenciar as causalidades históricas, as anterioridades e as sucessões, as especificidades históricas.
Ora, Proudhon tinha precisamente procurado uma outra via de reflexão (uma via que qualificaríamos hoje de estrutural ou estruturalista), consistindo pôr em relevo as contradições do sistema, os antagonismos sincrônicos entre — monopólio e concorrência, por exemplo — divisão do trabalho e recomposição do trabalho etc.
Método que contrariamente ao que pensa Marx, não manifesta nenhuma ignorância da perspectiva histórica, mas que contém implícita uma crítica do modelo historicista da evolução concebido como necessário e previsível, quer dizer, do modelo do materialismo histórico que é o de Marx.
E tocamos aqui um desacordo, com efeito insuperável, entre uma análise dos antagonismos e das contradições sócios-econômicos como propõe Proudhon, e o esquema histórico de Marx associando a análise do passado e uma representação da revolução necessária e inelutavelmente comunista.
E chegamos assim a um debate sem saída.
segue...
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