
Marx acusa Proudhon, por exemplo, de reduzir a dialética à oposição entre os bons e os maus lados das coisas... e Proudhon pode responder que ele próprio fez a crítica deste tipo de argumentação.
3.- Terceiro aspecto da polêmica:
o político.
Chegamos às conclusões políticas onde a discussão dá lugar, podemos dizer, a um diálogo de surdos, e onde a parte do não dito, a parte dos subentendidos, torna-se essencial.
Ainda aqui, a questão do devir histórico, a questão da revolução socialista ou comunista, tinham seguramente feito objeto de discussões, de vivos debates entre Proudhon, Bakunin, Marx, Karl Grün e ainda outros.
Nestes anos de 1845-46, Proudhon acumula reflexões sobre “a Associação”, sobre a Associação progressiva, como se pode ver nos Carnês destes dois anos.
Tem todo o sentido pensar que teria feito conhecer a Marx as suas reservas a respeito de uma visão simplista da revolução, reduzindo as mudanças sociais a uma ruptura breve e definitiva.
Proudhon não tinha feito, no Sistema das Contradições, senão delinear a sua teoria anarquista da revolução social, de maneira rápida mas suficientemente explícita. Escreveu, por exemplo:
“O problema consiste, pois, para as classes trabalhadoras, não a conquistar, mas a vencer... o poder, o que quer dizer... fazer surgir das entranhas do povo, das profundezas do trabalho, uma autoridade maior... que envolve o capital e o Estado, e que os subjuga”.
Marx, a leste da discussão, rompe o debate com Proudhon, retoma sozinho a palavra e expõe, pela primeira vez, esta concepção da revolução política e necessariamente comunista que irá expor de novo no Manifesto do Partido Comunista, no ano seguinte, e que não deixará, doravante, de justificar e defender.
É por conseqüência desta discussão que define a sua concepção definitiva. Entretanto, o debate não é mais só com Proudhon. Como Marx indica explicitamente, esta sucessão de afirmações sobre o devir necessário das lutas operárias em direção à revolução recusa largamente a visão política e histórica de Hegel.
Hegel encontra-se ainda legitimado por sua contribuição à concepção da dialética, e exclui do debate o que diz respeito à concepção do devir histórico. Mais ainda, estas páginas constituem uma tomada de posição nas discussões entre os jovens hegelianos.
Estas páginas, muito rápidas e dogmáticas, respondem do mesmo modo a todo um conjunto de discussões com múltiplas implicações. Marx visa aqui desmarcar-se simultaneamente do seu antigo mestre em filosofia, dos seus mais próximos amigos hegelianos, e do seu antigo mestre em crítica social, Proudhon.
E faz uma autocrítica; condena vivamente as suas posições anteriores, liberais e românticas dos anos 1842 a 1844. Debate confuso, com múltiplos fins, no qual Marx procura muito mais definir-se que prosseguir um diálogo. É notável que em presença destas páginas, Proudhon não acrescente nenhuma anotação.
As suas observações terminam em face da crítica de Marx sobre os seus capítulos “Concorrência e Monopólio”, e não exprime nenhuma outra reflexão na margem destas últimas páginas do panfleto de Marx. Poderíamos, certamente, interpretar de um modo diverso tal silêncio.
Não obstante, a interpretação mais verossímil é que o desacordo é tão claro, aos olhos de Proudhon, o esquema histórico de Marx pouco razoável, e politicamente contestável, que não sente absolutamente a necessidade de reformular a crítica nas suas notas marginais.
Proudhon já tinha expressado o seu ceticismo a respeito desta concepção simples da revolução na sua carta a Marx de maio de 1846.
Já conhecia a concepção de Marx e suspeitava que iria preparar, eventualmente, um novo despotismo. Pensava, por conseguinte, que sobre este ponto, as posições estavam tomadas e eram definitivas, e não havia mais matéria a dialogar.
segue...
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