continuação...

A irritação de Marx, a sua agressividade a respeito do livro de Proudhon, alimenta-se desta cumplicidade de irmãos inimigos na qual se misturam confusamente os pontos de desacordo e os entendimentos fundamentais.
Marx, nos seus anti-Proudhon, retém três pontos de ataque que se situam a níveis diferentes:
a análise econômica antes de tudo, o método dialético em seguida, as conclusões políticas por fim.
Examinemo-las sucessivamente:
1.- A polêmica sobre a economia. É objeto das primeiras páginas do livro e que anuncia o título trocista do primeiro capítulo:
“Uma descoberta científica”. Marx toma como objetivo as teorias do “valor constituído” e da “proporcionalidade dos produtos” que Proudhon tinha proposto no seu segundo capítulo.
Esta polêmica desenrola-se a partir dos postulados de base que Proudhon tinha anunciado desde 1840 e que retomam as teses de Adam Smith e Ricardo sobre o valor trabalho.
Marx e Proudhon partem do mesmo princípio fundamental segundo o qual, como o repete Marx: “... o valor relativo de um produto é determinado pelo tempo de trabalho necessário para produzi-lo”.
Há bem uma “proporcionalidade”, um “ganho de proporcionalidade” como conseqüência do valor determinado pelo tempo de trabalho. E Marx discute sobretudo as formulações que os princípios.
Do mesmo modo, Marx retoma como uma evidência, e sem insistir, a teoria do salário:
teoria do salário-sustento da força de trabalho que Proudhon tinha exposto na Primeira Memória, retomando esta teoria de Ricardo ou de Eugène Buret, por exemplo.
Por fim, Marx retoma, se não os termos, pelo menos a idéia fundamental da extorsão dos valores, a idéia do “roubo” proprietário, que elaborará mais rigorosamentena teoria da mais-valia.
Marx vai discutir as formulações de Proudhon, reprovar-lhe negligenciar o “movimento constituído” que faz do trabalho a medida do valor, de negligenciar provisoriamente o “antagonismo das classes”, mas a discussão situa-se no interior do mesmo quadro teórico.
Quais foram as reações de Proudhon a estas críticas relativas à análise econômica?
Enquanto que o iremos ver reagir vigorosamente às discussões relativas à dialética, não escreve nada, nem uma frase, à margem deste capítulo! Como que, até parece, estas objeções poderiam fazer parte de uma discussão que importava continuar.
Só encontramos aqui uma única palavra:
Proudhon escreve um “Oui” [sim], não na seqüência de uma análise de Marx, mas à margem de um excerto que Marx transcreve de uma obra do socialista inglês Bray, de 1839.
O excerto é o seguinte:
“Os produtores só têm que fazer um esforço — e é por eles que todo o esforço pela sua própria saúde deve ser feito — e as suas cadeias serão para sempre quebradas...Como fim, a igualdade política é um erro, ela é mesmo um erro como meio”.
Esta única reação de Proudhon indica claramente que aos seus olhos, uma tal afirmação é mais importante e significativa que as discussões de teoria econômica.
2.- Segunda polêmica:
sobre a dialética.
As reações de Proudhon, sobre os métodos e sobre a concepção da dialética, vão ser numerosas, precisas e vigorosas. Aqui também se trata de uma discussão que prossegue.
Sabemos que Proudhon e Marx tinham longamente discutido o conjunto da dialética, e, mais tarde, Marx gabar-se-á de ter “injetado” hegelianismo em Proudhon:
“Em longas discussões, muitas vezes durante toda a noite, injetava-o de hegelianismo — para seu prejuízo, visto que não sabendo alemão, não podia estudar a coisa a fundo”, escreverá Marx, bastante mais tarde, em janeiro de 1865.
No entanto, desde 1847, faz a Proudhon a mesma censura, a de não ter compreendido a dialética hegeliana, o que é por sua vez exato e exterior ao debate pois que Proudhon não procurou ser um discípulo de Hegel:
encontrou somente na filosofia de Hegel elementos de reflexão para as suas próprias análises, segundo o método intelectual que lhe era familiar. Estes debates interessam vivamente Proudhon como se vê, pelo número e pela vivacidade das suas notas marginais.
Sobre diversos pontos, Proudhon nega que esteja em desacordo com o seu crítico. Por exemplo, logo que Marx escreve que ele deve “considerar a produção feudal como um modo de produção fundado sobre o antagonismo”, Proudhon mostra o seu espanto:
“Será que Marx tem a pretensão de dar tudo isto como seu, em oposição com algo de contrário que eu teria dito?”; ou então, noutro lugar:
“Eis, pois, que tenho o infortúnio de pensar como vós!”; ou então, ainda:
“Digo precisamente tudo isso”; ou ainda: “Mentira: é precisamente o que digo”.
segue...
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