
Contrariamente a Marx, que profetiza o desaparecimento do Estado, logo que cheguemos ao estádio do comunismo (Estado que se encontrava fundido na sociedade civil, conforme a velha idéia de Saint-Simon), Proudhon pensa que subsistirá qualquer coisa, pois o Estado constitui também a instituição de arbitragem entre os grupos em situação de conflito.
Proudhon pede simplesmente que no quadro das novas relações sociais, fundadas sobre a reciprocidade dos serviços, as funções sejam descentralizadas o mais possível, o poder seja repartido ao nível dos grupos funcionais de consumidores, produtores, utentes [pessoa que se utiliza] dos serviços públicos, funcionários da administração pública, etc., seguindo o princípio federativo, quer dizer procedendo da base para o pico e da circunferência para o centro.
O problema real não é o da existência do Estado, é o da reorganização do poder a todos os escalões da sociedade, de tal modo que todos os grupos sociais, munidos da parte do poder que lhes pertence tendo em conta a situação que ocupam no acordo social, não possam monopolizar para seu único proveito a totalidade do poder.
Pela difusão, a repartição do poder, as forças sociais em presença podem agir na sua zona de responsabilidade, sem ter a possibilidade de invadir a dos outros, ou então há conflito e este pode nascer sem ser abafado na base pela omnipotência dum único grupo.
Noutros termos, o que Proudhon nega é o Estado construído a partir dum grupo de autoridade, mas não pela necessidade dum aparelho de Estado reduzido ao mínimo.
Proudhon estabeleceu uma crítica radical da autoridade sob todas as suas formas:
autoridade de Estado,
autoridade de princípios religiosos ou transcendentes,
autoridade de competência (científica ou técnica, etc.),
autoridade da arte,
autoridade da moral..., etc.,
que são todas da alçada de um imperialismo, um absolutismo, uma universalidade, e que têm por função justificar a redução a uma única dimensão da efervescência dos grupos sociais.
Proudhon substitui a autoridade, e as suas máscaras, pelo livre jogo das relações de força entre os grupos sociais, no quadro de instituições sociais, concebidas de tal maneira que o poder duns seja contrabalançado pelo de outros, sem suprimir a evolução da sociedade.
Os socialistas autoritários, mesmo camuflados por detrás da autogestão, a sua, não a dos outros, para eles e não para os outros, tirariam vantagem se se inspirassem em Montesquieu:
“O poder corrompe, o poder absoluto corrompe absolutamente.”
E isso era o projecto de Proudhon, definir uma problemática da organização social de tal modo que nenhum grupo pudesse, após a revolução social, apropriar-se do poder absoluto.
fonte:
http://franciscotrindade.blogspot.com/2010/10/o-negro-e-o-vermelho_27.html
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