
Proudhon, sabemos, não nasceu em família abastada. À maneira de muitos jovens de hoje em dia, teve de recorrer ao auxílio de bolsas de estudos, muitas vezes trabalhando ao mesmo tempo.
Proudhon sempre duvidou da filosofia de Kant, que subordina o sujeito empírico ao sujeito transcendente. Para ele, a Idéia continha o universal e contra este era preciso rebelar-se.
Sabia desde criança o que eram as religiões e aprendera o que era ser governado pela Idéia e rebelar-se contra ela. Jovem ainda, avistava com temor o que poderia ser o mundo comandado por uma ciência universal.
Contra o transcendente de qualquer natureza, Proudhon afirmava a existência presente, o fato, a negação de um pensamento ou governo pelo alto. Nem Deus, nem Ciência: ambas são formas de conhecer que procuram governar as consciências.
De Proudhon vem não só a expressão moderna anarquia. Ele também procurou designar por anarquia, um regime de liberdade como superação das injustiças da propriedade, assim como esta procurou sanar as injustiças do regime da comunidade.
Proudhon pouca atenção deu aos aspectos históricos do capitalismo, mesmo porque se preocupava com as características essenciais da propriedade. Essência que não supunha profundidade da verdade de onde decorreria uma síntese.
Sua dialética não tinha parentesco com a de Hegel e muito menos com a de Marx. Ele pretendia pensar a série propriedade encontrando seu esgotamento.
Anarquia é ordem de outra grandeza. Supõe abolição da propriedade que rouba a força coletiva, da religião que desvia a consciência e do Estado que dirige as forças sociais. A sociedade é caracterizada por ele sendo composta de forças em luta.
A vida contra as desigualdades e injustiças depende da luta contra o Estado, lugar privilegiado para a conservação da hierarquia, no passado longínquo romano, no passado recente feudal, no presente capitalista.
As forças livres investem em abolição simultânea de Estado, religião e propriedade e não em ocupação do Estado e transformação da propriedade. Dizer propriedade é sempre falar de roubo praticado contra as forças de outro. Para ele, propriedade socialista nada mais é do que propriedade estatal, outra forma do roubo.
A analítica serial elaborada como método por Proudhon procura acolher os fatos, exige observação e investe na antítese da unidade. Evita a síntese, o absoluto e a finalidade.
Diante da ciência universal fundada em substância e causa, opõe o fato, as forças em luta. A maioridade da humanidade, tão cantada pelos kantianos quanto à emancipação humana definitiva esperada pelos marxistas, é apenas uma nova forma de perpetuar a escravização.
Em nome desta racionalidade, esperam que sejamos comandados pelas ciências, as mesmas que em nome do particular determinam universais. Desta maneira, lá onde as teorias sobre os homens contemplam pensamentos hierárquicos, na magnitude das melhores intenções, havendo hierarquia, não cessarão impedimentos à liberdade.
verve; nº.2: 141 - 155 , 2002;
Do método serial ao anarquismo científico,
in: heterotopias anarquistas, de edson passetti (Coordenador do Nu-Sol; Professor no Departamento de Política e no P.E.P.G. - Ciências Sociais; P.U.C. – S.P.)
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