Pierre-Joseph Proudhon (1809 ~ 1865):

" Que nos falta para realizarmos a obra que nos foi confiada? Uma só coisa: A prática revolucionária!... O que caracteriza a prática revolucionária é que ela já não procede por pormenor e diversidade, ou por transições imperceptíveis, mas por simplificações e por saltos."

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terça-feira, 31 de agosto de 2010

Desta maneira, a aplicação de um princípio conduz o povo à descoberta de um outro, uma solução obtida conduz sempre a uma outra solução.

Se portanto acontecesse que os trabalhadores se combinassem em todas as partes da República e se organizassem da mesma maneira, é evidente que, senhores do trabalho e produzindo incessantemente, pelo trabalho, novos capitais, logo teriam reconquistado, por sua organização e sua concorrência, o capital alienado; atrairiam a eles, principalmente, a pequena propriedade, o pequeno comércio e a pequena indústria; depois a grande propriedade e as grandes empresas; depois as explorações mais bastas [volumosas], as minas, os canais, as estradas de ferro; eles se tornariam os senhores de tudo pela adesão sucessiva dos produtores e a liquidação das propriedades, sem espoliação nem saque dos proprietários.

(...) Tal é a obra começada espontaneamente sob nossos olhos pelo povo, obra que ele continua com energia admirável, através de todas as dificuldades da questão e das mais horríveis privações. E, não convém se cansar de dizê-lo, não são os fundadores da escola que começaram este movimento, não é o Estado que de o primeiro impulso, é o povo.

Nós não somos aqui senão seus intérpretes.

Nossa fé, a fé democrática e social, já não é mais uma utopia, é uma realidade. Não é de modo nenhum nossa doutrina que pregamos; são as idéias populares que tomamos por tema de nossos desenvolvimentos. Aquelas não são os nossos que desconhecem, que nos falam de associação e de República e que não ousam confessar para seus irmãos os verdadeiros socialistas, os verdadeiros republicanos.

Devotados há dez anos a esta idéia, nós não esperamos o triunfo do povo para nos alinharmos com ele.

(...) Que o governo, que a Assembléia Nacional, que a própria burguesia nos protejam e nos ajudem no cumprimento de nossa obra, seremos gratos por isso. Mas que não se procure mais distrair-nos daquilo que vemos como os verdadeiros interesses do povo; que não se tente nos iludir com inúteis aparências de reforma.

Estamos bastante esclarecidos para sermos novamente ingênuos, sabemos melhor como vai o mundo do que os políticos que nos honram com suas advertências.

Nós estimaríamos muito que o Estado, através de contribuições tomadas sobre o orçamento, contribuísse para a emancipação dos trabalhadores; não veríamos senão com desconfiança o que se chama organização do crédito pelo Estado, e que não é, segundo nós, senão a ultima forma de exploração do homem pelo homem, nos rejeitamos o crédito do Estado porque o Estado, endividado em oito bilhões, não possui um centavo do qual possa dar crédito; porque sua procuração repousa somente sobre um papel de valor fixo.

Porque o valor fixo leva fatalmente à depreciação e porque a depreciação sempre atinge o trabalhador de preferência ao proprietário; porque nós, produtores associados ou em via de associação, nós não temos necessidade nem do Estado nem de valor fixo para organizar nossas trocas; porque, enfim, o crédito pelo Estado é sempre o crédito pelo capital, não o credito pelo trabalho, sempre a monarquia, não a democracia.

No sistema que nos é proposto [1] e que nós rejeitamos com toda a energia de nossas convicções, o Estado, para dar crédito, deve antes de tudo se prover de capitais. Estes capitais, é preciso que eles os exija à propriedade, pela via do imposto.

É portanto voltar sempre ao princípio, enquanto se trata de destruí-lo; é afastar a propriedade após tê-la proclamado, pela Constituição, inviolável.

Que outros, com idéias menos avançadas e menos suspeitas, de moral meticulosa, apóiem tais idéias, não acusaremos de modo algum sua tática.

Quanto a nós, que não fazemos de maneira alguma guerra aos ricos mas aos princípios; nós, que a contra-revolução não cessa de caluniar, nós devemos ser mais rigorosos. Nós somos socialistas, nós não somos espoliadores [privar de alguma coisa por fraude ou por violência].

notas:

[1] de Louis Blanc.

in:

Trecho retirado de Manifesto Eleitoral do Povo – 1848Proudhon, por Paulo Afonso, que considerou tal trecho importantíssimo para a compreensão do mutualismo Proudhoriano.

Dica de leitura para compreender outra peça importante para o mutualismo, o Contrato Social, que Proudhon passa a defender e excluir a idéia do governo, estado, de fato.

A idéia do Contrato Social exclui aquela do governo [...] – Proudhon

Idéia Geral da Revolução No Século XIX – Capítulo IV, Princípio da Autoridade

Link download:

http://www.4shared.com/document/_dKVPgZP/Proudhon_-_Idia_Geral_Da_Revol.htm

Podemos considerar que no Manifesto Eleitoral do Povo, Proudhon se declara mais socialista que anarquista (mesmo que tenha usado o termo socialista isso não importaria, antigamente socialismo e anarquismo não diferenciavam como hoje).

Ele defende a supremacia da classe proletária, mínimo da propriedade e o mínimo Estado, o Estado totalmente descentralizado por todos trabalhadores (que depois passa a não mais defendê-lo, pela seguinte questão: se eles governam, quem eles governam, sendo que o Estado, o governo, há de haver um governado? Então não haveria Estado/governo.)

Após este manifesto, que por sua vez teve grande importância, Proudhon seguiu sua filosofia política se declarando mesmo, com todas as palavras, Anarquista.

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