
O produtor e o consumidor, na realidade das coisas, como na ciência econômica, é sempre o mesmo personagem, considerando somente de dois pontos de vista diferentes.
Por que este não seria da mesma maneira capitalista e trabalhador?
Trabalhador e artista?
Separai estas qualidades na organização social e vós criais fatalmente castas, a desigualdade, a miséria; uni-as, ao contrário, em cada individuo, e vós tendes a igualdade, tendes a República.
É assim ainda que na ordem política devem se apagar um dia todas estas distinções de governantes e governados, administradores e administrados, funcionários públicos e contribuintes, etc.
É necessário, para o desenvolvimento da idéia social, que cada cidadão seja tudo; porque, se não é tudo, ele não é livre; sofre opressão e exploração em algum aspecto.
Qual é então o meio de operar esta grande fusão?
O meio é indicado pelo próprio mal. E, em primeiro lugar, esforcemo-nos para ainda melhor definir, se é possível, o mal.
Visto que o proletariado e a miséria têm por causa orgânica a divisão da sociedade em duas classes:
uma que trabalha e não possui; a outra que possui e não trabalha, que, por conseguinte, consome sem produzir; segue-se que o mal de que sofre a sociedade consiste nesta ficção singular de que o capital é, por ele mesmo, produtivo; enquanto o trabalho, por ele mesmo, não o é.
Com efeito, para que as condições fossem iguais, nesta hipótese da separação do trabalho e do capital, seria preciso que, como o capitalista se desenvolve através de seu capital, sem trabalhar, também o trabalhador pudesse se desenvolver através de seu trabalho, sem capital.
Ora, não é o que acontece.
Portanto a igualdade, a liberdade, a fraternidade são impossíveis no regime atual; portanto a miséria e o proletariado são a conseqüência fatal da presente organização da propriedade.
Todo aquele que o sabe e não o confessa mente igualmente à burguesia e ao proletariado.
Todo aquele que solicita os sufrágios do povo e o dissimula não é nem socialista nem democrata.
Nós o repetimos:
A produtividade do capital, aquela que o cristianismo condenou sob o nome de usura, tal é a verdadeira causa da miséria, a verdadeira origem do proletariado, o eterno obstáculo ao estabelecimento da República.
Nada de equívoco, nada de confusão, nada de subterfúgio!
Que aqueles que se dizem democrata-socialistas assinem conosco esta profissão de fé; com este sinal, mas somente com este sinal, nós reconhecemos neles irmãos, verdadeiros amigos do povo, nós subscrevemos todos os seus atos.
E agora, o meio de extirpar o mal, de fazer cessar a usura, qual é?
Será atacar o lucro francamente, apoderamo-nos da renda?
Será, ao professar o maior respeito pela propriedade, roubá-la através do imposto, na medida em que ela é adquirida pelo trabalho e consagrada pela lei?
É aqui sobretudo que os verdadeiros amigos do povo se distinguem daqueles que não querem senão comandar o povo; é aqui se separam de seus pérfidos imitadores.
O meio de destruir a usura não é, mais uma vez, confiscar a usura; é opor princípio a princípio, isto é, numa palavra, organizar o crédito.
Organizar o crédito, para o socialismo, não é emprestar a juros, visto que isto sempre seria conhecer a soberania do capital; é organizar a solidariedade dos trabalhadores entre eles, é criar sua garantia mútua, segundo este princípio de economia vulgar de que tudo que tem um valor de troca pode ser um objeto de troca, pode, por conseguinte, dar matéria a crédito.
Do mesmo modo que o banqueiro empresta seu dinheiro ao negociante que lhe paga isso em juros:
O proprietário fundiário empresta sua terra ao camponês que lhe para um arrendamento;
O proprietário de imóvel empresta um alojamento ao locatário que lhe paga isso em aluguel;
O comerciante empresta sua mercadoria à freguesia que compra à prestação;
Da mesma maneira o trabalhador empresta seu trabalho ao patrão que lhe paga no fim do mês ou no fim da semana. Todos quantos somos, nós emprestamos reciprocamente alguma coisa:
não se diz vender a crédito, trabalhar a crédito, beber a crédito?
Portanto, o trabalho pode dar crédito dele mesmo, ele pode ser credor como o capital.
Portanto, ainda, dois ou mais trabalhadores podem emprestar entre si seus produtos e, se eles se combinam por operações contínuas deste gênero, organizarão entre eles o crédito.
Eis o que compreenderam admiravelmente as associações operárias que, espontaneamente, sem comandita [s
ociedade comercial em que parte dos sócios entra com o capital sem participar da administração
], sem capitais, se formam em Paris e Lyon, e somente por isto elas se colocam em relação umas com as outras, elas se emprestam, organizam, como se diz, o trabalho.
De modo que, organização do crédito, organização do trabalho, associação, é uma única e mesma coisa. Não é uma escola, não é um teórico que diz isto; é fato atual, o fato revolucionário que o demonstra.
in:
Retirado de “Manifesto Eleitoral do Povo - Journal du Peuple”, 8-15 de novembro de 1848.
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