
Para Proudhon, os homens de seu tempo podem viver melhor, sem a interferência do Estado e, por isso, devem lutar contra a propriedade privada e qualquer forma de autoridade.
O autor apresenta o cooperativismo e o federalismo como modelos que devem estabelecer para se sobreporem ao Estado e organizar a sociedade.
A diferença entre uma sociedade anárquica e uma sociedade estatal é a mesma que existe entre uma estrutura e um organismo: enquanto a primeira é construída artificialmente, o outro cresce de acordo com as leis naturais.
Metafisicamente se pode comparar a pirâmide do Estado com a esfera da sociedade, que é mantida por um equilíbrio de forças.
Duas formas de equilíbrio têm muita importância na filosofia dos anarquistas.
Um destes é o equilíbrio entre destruição e construção, que domina suas táticas.
O outro é o equilíbrio entre liberdade e ordem, que faz parte de sua visão da sociedade ideal. (WOODCOCK, 1981, p. 14)
A negação da hierarquia e o não respeito a ordens pré-estabelecidas, sobretudo as provenientes do Estado, é ponto chave para a conquista da liberdade humana, na visão dos anarquistas, que consideram a ordem e a disciplina como atributos natos dos homens.
Entretanto, é na defesa da destruição da propriedade que o anarquismo se afirma como um movimento de idéias e ações anticapitalistas.
[...]
Pierre-Joseph Proudhon se difere dos demais socialistas anarquistas não somente pela sua vasta produção científica, mas, também, por sua oposição à propriedade privada.
A idéia de criar “associações operárias” como demonstração da inutilidade social dos patrões foi amplamente absorvida pelos anarquistas, e Proudhon a condensou em sua fórmula famosa:
“A propriedade é um roubo”.
Isso confere sentido à ação operária, à qual cabia retomar o que lhe fora roubado – a começar pelas fábricas construídas graças ao seu trabalho, e a se associarem para geri-las, abolindo o trabalho assalariado e qualquer forma de trabalho subordinado ao patrão.
Para Leval et al. (2002), Proudhon é teórico do cooperativismo mutualista, e é nesse espaço que ele vislumbra o desmonte da propriedade privada e a ocupação dos meios de produção pelos produtores livres e associados. Nesse sentido, Buber (1986) destaca que Proudhon defende as cooperativas como base de uma futura sociedade socialista:
Existe mutualidade e reciprocidade quando, numa indústria, todos os trabalhadores, ao invés de trabalharem para um empresário que lhes paga, ficando com seu produto, trabalham uns para os outros, fabricando um produto comum, cujos lucros dividem entre si.
Entendamos agora o princípio de mutualidade, que une o trabalho de cada grupo às associações de trabalho concebidas como unidades, e teremos criado uma forma de civilização que, de qualquer ponto de vista, político, econômico ou estético, se distinguirá totalmente das civilizações anteriores. (BUBER, 1986, p.44)
As primeiras publicações das idéias de Proudhon diferenciam-se das idéias dos socialistas utópicos pela negação à possibilidade de se alcançar o socialismo por meio de outra forma que não fosse a revolução política.
Contudo, na obra “Sistemas das Contradições Econômicas ou Filosofia da Miséria”, de 1846, redefine suas posições revolucionárias, defendendo a ação prática dos homens como a única forma capaz de concretizar a transição, e para isto propõe o cooperativismo mutualista como princípio econômico e o federalismo como princípio político.
notas:
BUBER, M. O socialismo Utópico. 2. ed. São Paulo: Perspectiva, 1986. 200 p. Coleção Debates. Tradução: Paola Civelli.
LEVAL, G. et al. Autogestão e Anarquismo. Perdizes, São Paulo: Imaginário, 2002. 98 p.
WOODCOCK, G. Os grandes escritos anarquistas. Porto Alegre: L&PM Editores Ltda., 1981.
fonte:
LABORATÓRIOS SOCIAIS DE AUTOGESTÃO NO BRASIL E NA ARGENTINA:
Cooperativas na produção e reprodução da vida em cooperação, por
Luiz Carlos Chaves
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