
Foi efetivamente P.-J. Proudhon, em seu livro-"memória”, O que é a propriedade?, que veio a lume em 1840, que lançaria as bases para a luta econômica contra o “partido” do capital.
Neste trabalho, em um primeiro momento festejado pelo próprio Marx, como sendo o “primeiro exame sério e ao mesmo tempo científico” sobre a propriedade, ele atacava duramente a instituição referida e concluía, à pergunta inicial, afirmando:
“A propriedade é um roubo”.
Proudhon, com seus diversos trabalhos não cessaria de crescer em importância e influência nos meios socialistas do Ocidente, por todo o século XIX. Seu prestígio, entretanto, em pouco tempo, transformaria Marx de leitor atento e admirador confesso em ferrenho oponente e detrator contumaz.
Pouco antes da cisão definitiva entre ambos, Marx escreveria a Proudhon uma carta convidando-o a colaborar em uma revista alemã, que seria publicada em Bruxelas, por volta de 1846, à qual este último respondia da seguinte forma:
“Façamos ato de antidogmatismo... quase absoluto. Não sonhemos em doutrinar o povo colocando-nos como apóstolos de uma nova religião”.[1]
Na verdade, Proudhon declinava do convite entendendo a obra de Marx como uma iniciativa marcada pelo dogmatismo e preconceito teórico. Já, nessa atitude, o filósofo francês marcava a sua opção pelo pluralismo e pela independência em relação a outras vertentes do socialismo.
Em suas obras seguintes ele enfrentaria as mais duras acusações de Marx, e seu trabalho, Sistema das Contradições Econômicas ou Filosofia da Miséria, seria objeto da crítica do comunista alemão em Miséria da Filosofia.
Tais querelas teriam eco também no interior da Associação Internacional dos Trabalhadores, fundada em Londres, no ano de 1864, dentro da qual proudhonianos ou mutualistas disputariam espaço político com os seguidores de Marx.
A despeito das acusações dirigidas a Proudhon, de ser ele um autor burguês e conservador na análise dos costumes, seus escritos em muito superam a influência de Marx no meio operário francês, até o advento da Comuna de Paris, em 1871.
A doutrina social e política de Proudhon ganhou muito com suas experiências concretas. Quando da conjuntura especialmente revolucionária de 1848, ele atacou a Louis Blanc, membro na ocasião do governo provisório, com duras palavras.
Acusou Blanc por seu estatismo e reformismo e colocou o Estado e o governo em oposição "a personalidade e autonomia das massas”.
Em 1851, às portas do golpe de Luís Napoleão, no seu A Idéia Geral de Revolução no Século XIX, atacando as reivindicações meramente corporativas dos operários e desafiando o mito político republicano, Proudhon afirmava:
"Quer os operários saibam ou não, não é nos seus interesses mesquinhos que consiste a importância da sua obra, mas na negação do regime capitalista, agiota e governamental.(...) A revolução está acima da República”.
É igualmente nesta obra demolidora que, antes de Engels, atribui a Saint-Simon e Fourier a condição de utópicos. Uma vez que se encontrava encarcerado por ordem de Napoleão, ao escrever a referida obra, Proudhon alimentou a esperança de uma unidade episódica entre a classe média e o proletariado, para a deposição do tirano.
Entretanto, no livro seguinte, ainda escrito na prisão, A Filosofia do Progresso, demonstra confiar mais estritamente na "energia revolucionária da classe operária”.
De qualquer forma, a despeito das alianças conjunturais, era na classe dos produtores que depositava Proudhon a tarefa de derrubar a ordem de privilégios representada no capitalismo. No seu Do Princípio Federativo e da Necessidade de Reconstruir o Partido da Revolução, de 1863, ele afinaria ainda mais a relação entre os objetivos e o método na Revolução.
Já no fim de sua vida ao ser instado, pelos signatários, a responder ao “Manifesto dos Sessenta”, em março de 1864 — uma carta pública assinada por operários franceses a respeito da representação política no parlamento — ele diria:
Eu não esperava, confesso-o, ser consultado por quem quer que fosse sobre semelhante questão. Achava o movimento eleitoral enfraquecido e não pensava, em meu isolamento, senão em diminuir, no que pudesse depender de mim, os seus efeitos deploráveis.
Mas já que, por considerações que me parecem totalmente pessoais, vossa confiança em minha opinião achou dever, por assim dizer, me convocar, não hesito de modo algum em responder a vossa questão, tanto menos porque meu pensamento não saberia ser outra coisa senão a interpretação do vosso.[2]
Com esta resposta, além de seu livro Da Capacidade Política das Classes Operárias, motivado em muitos aspectos pela referida questão, publicado postumamente, — o pensador morreria em janeiro de 1865 — Proudhon se consagrava como uma das principais influências, ao lado de Blanqui, no meio operário francês, e mesmo dentro da Internacional, seção parisiense.
Apesar de ter sido Proudhon um importante teórico da questão operária e, por este motivo, mesmo após a sua morte, ter fiéis seguidores no interior da Internacional...
in:
O ANARQUISMO DE PROUDHON A MALATESTA, de
notas:
1.- Jean Bancal. Proudhon – pluralismo e autogestão, vol. 1. Brasília, Novos Tempos Editora, 1984, p. 19.
2.- J.-P. Proudhon. Textos Escolhidos. Porto Alegre, LP&M, 1983, p. 96.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
sua opinião é sempre bem vinda...