Pierre-Joseph Proudhon (1809 ~ 1865):

" Que nos falta para realizarmos a obra que nos foi confiada? Uma só coisa: A prática revolucionária!... O que caracteriza a prática revolucionária é que ela já não procede por pormenor e diversidade, ou por transições imperceptíveis, mas por simplificações e por saltos."

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sábado, 27 de março de 2010


Paris, 24 de Janeiro, 1856.
A. M. VILLIAUMÉ


Em minhas Contradições, eu ridicularizei igualmente os Socialistas e os Economistas; desde 1848, eu afirmei o Socialismo. Essa variância o preocupa e você pede uma explicação.

Toda palavra em uma língua está sujeita a significados que são muito diferentes, às vezes até opostos.

Por Socialismo, você dá por entender a filosofia que ensina a teoria da sociedade ou a ciência social? Eu afirmo esse Socialismo.

Você quer designar não a filosofia ou a ciência, mas a escola, a seita, ou o partido que admite essa ciência, acha que ela é possível e a procura?

Eu sou dessa opinião. É nesse sentido que o Povo e o Representante do Povo em 1848 eram dois órgãos do Socialismo.

Mesmo hoje, eu firmemente professo minha crença no Socialismo, e mais do que nunca em seu triunfo.

Mas, em discussões econômicas, acontece que se chama de Socialismo a teoria que tende a sacrificar direitos individuais ao social, assim como se chama de Individualismo a teoria que tende a sacrificar a sociedade ao indivíduo.

Nesse caso eu nego tanto o Socialismo quanto o Individualismo; nisso, eu apenas sigo o exemplo de Pierre Leroux, o qual, ainda que tenha se declarado Socialista em 1848, como eu, tem apesar de tudo combatido o Socialismo em seus livros, e demandado a prerrogativa individual.

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“Programa Revolucionário de 1848”


Sou eu cidadãos, como vocês bem sabem, o homem que escreveu essas palavras: “A propriedade é roubo!”

Eu não venho retirá-las, deus me livre! Eu persisto em tomar essa definição provocativa como a maior verdade de nosso século.

Eu não tenho desejo de insultar suas convicções tampouco: tudo o que eu peço, é lhes dizer como eu – defensor da família e do lar, e adversário do comunismo que sou – entendo que a negação da propriedade é necessária para a abolição da miséria, para a emancipação do proletariado.

É por seus frutos que se deve julgar uma doutrina: julguem então minha teoria por minha prática.

Quando eu digo, “A propriedade é um roubo!”, eu não proponho um princípio; eu não faço nada senão expressar uma conclusão. Vocês entenderão a enorme diferença imediatamente.

Entretanto, se a definição de propriedade que eu proponho é apenas a conclusão, ou ao invés a fórmula geral do sistema econômico, qual é o princípio desse sistema, qual é a prática e quais são suas formas?

Meu princípio, cidadãos, o qual parecerá chocante para vocês, meu princípio é seu; é a própria propriedade.

Eu não tenho outro símbolo, nem outro princípio exceto aquele da Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão: Liberdade, igualdade, segurança, propriedade.

Como a Declaração dos Direitos, eu defino liberdade como o direito de fazer qualquer coisa que não prejudique outros.

Novamente, como a Declaração de Direitos, eu defino propriedade, provisoriamente, como o direito de dispor livremente da sua renda, dos frutos de seu trabalho e indústria. [1]

Aqui está a totalidade do meu sistema: liberdade de consciência, liberdade de imprensa, liberdade de trabalho, livre troca, liberdade na educação, livre competição, livre disposição dos frutos do trabalho e indústria, liberdade ad infinitum, liberdade absoluta, liberdade para todos e sempre.

É esse o sistema de 89 e 93; o sistema de Quesnay, de Turgot, de J.B Say; o sistema que é sempre professado, com mais ou menos inteligência e boa fé, pelos vários órgãos dos partidos políticos, o sistema dos Dèbats, da Presse, do Constitutionnel, do Siècle, do Nationale, da Reforme, da Gazette; no fim, esse é seu sistema, votantes.

Simples como a unidade, vasto como a infinidade, esse sistema serve para si mesmo e para outros como critério. Numa palavra ele é compreendido e compele adesão; ninguém quer um sistema no qual a liberdade é mesmo minimamente comprometida.

Uma palavra identifica e impede todos os erros: o que poderia ser mais fácil do que dizer o que é ou não é liberdade?

Liberdade então, nada mais, nada menos. Laissez faire, laissez passer, no sentido mais amplo e literal; conseqüentemente a propriedade, assim que surja legitimamente dessa liberdade, é meu princípio.

Nenhuma outra solidariedade entre cidadãos do que essa que aparece acidentalmente por força maior: no entanto que se relaciona a ações livres, e manifestações de pensamento reflexivo, completa e absoluta insolidariedade.

(...)

Quem é que não percebe que a organização mutualista de troca, de circulação, de crédito, de compra e venda, o fim dos impostos e tarifas de qualquer natureza que coloca fardos na produção e banimentos aos bens, irresistivelmente levam os produtores, cada um seguindo sua especialidade, em direção a uma centralização análoga a do Estado, mas na qual nenhum obedecem, ninguém é dependente, e todos são livres e soberanos?


Notas do Tradutor:

[1]
right to dispose freely of one's income, the fruits of one's labor and industry.

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