
Quanto mais interrogo os filósofos contemporâneos [século XIX], mais fico convencido de que todos se dedicaram exclusivamente a determinar o modo da evolução histórica - noutros termos:
o organismo humanitário, o que na civilização pertence ao fatalismo...
Hegel dedica-se pois a descrever o movinento orgânico do espírito, do qual deduz em seguida o organismo da natureza e o da sociedade:
o que equivale a dizer que ele apresenta a teoria da fatalidade natural e social de acordo com a teoria da fatalidade da idéia...
Aceitemos pois, como teoria da necessidade histórica, todo o sistema de Hegel:
eu pergunto apenas qual é o lugar da liberdade.
Provavelmente, ele reserva-o para o pormenor, para aquela parte acidental que, primeiramente, tinha julgado indigna da sua atenção. Não, não há nenhuma missão atribuída à liberdade, no sistema de Hegel; portanto, nenhum progresso.
Hegel consola-se com esta perda, do mesmo modo que Spinoza. Chama liberdade ao movimento orgânico do espírito, dando ao da natureza o nome de necessidade. No fundo, diz ele, estes dois movimentos são idênticos:
deste modo, acrescenta a filosofia, a mais elevada liberdade, a maior independência do homem consiste em saber-se determinado pela idéia absoluta, ciência ou consciência.
A mais elevada liberdade política consiste, para o cidadão, em saber-se governado pelo poder absoluto:
o que deve pôr à vontade os partidários da ditadura perpétua e do direito divino.
Tudo é... para o alemão, evolução orgânica, fatalidade, morte; no seu sistema, os destinos dos indivíduos (estão) absorvidos pelo organismo coletivo.
Não foi assim, da nossa parte, que concebemos a liberdade. A liberdade, de acordo com a definição revolucionária, é apenas a consciência da necessidade; não é a necessidade do espírito, em desenvolvimento conjunto com a necessidade da natureza:
1.- é uma força de colectividade que abrange, ao mesmo tempo, a natureza e o espírito, e que, como tal, é senhora de negar o espírito, de se opor à natureza, de a submeter, de a destruir e de se destruir a si própria;
2.- que recusa, para si, qualquer organismo;
3.- cria para si, pelo ideal e pela justiça, uma existência divina, cujo movimento é consequentemente superior ao da natureza e ao do espírito; e
4.- incomensuravelmente com um e outro:
o que é totalmente diferente da liberdade hegeliana...
fonte:
Justice, Prog. et Décadence, de Pierre-Joseph Proudhon
in: francisco trindade, O NEGRO E O VERMELHO; TERÇA-FEIRA, DEZEMBRO 22, 2009.
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