Pierre-Joseph Proudhon (1809 ~ 1865):

" Que nos falta para realizarmos a obra que nos foi confiada? Uma só coisa: A prática revolucionária!... O que caracteriza a prática revolucionária é que ela já não procede por pormenor e diversidade, ou por transições imperceptíveis, mas por simplificações e por saltos."

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quinta-feira, 15 de abril de 2010

a proposta de Proudhon
por Fernando Cláudio Prestes Motta

Conclusão:

[...] o poder se apresenta historicamente sob forma de apropriação e que, no capitalismo moderno, essa apropriação se dá através da burocracia.

Além disso, vimos que a burocracia tende a assumir e conservar o monópolio da função de governo dos processos sociais essenciais, que ela pretende governar em nome das massas trabalhadoras, que ela expropria uma parte da mais-valia, sob forma de vários privilégios.

A teoria autogestionária de Proudhon é a negação desses processos; nela, a política torna-se governo do próprio povo e desaparece a apropriação econômica e política, que caracteriza o sistema burocrático.

As duas formas de opressão social, que negam a personalidade autônoma dos grupos sociais e a capacidade de autogestão da sociedade pluralista, são demonstradas por Proudhon:

1.- A propriedade capitalista, no seu fundamento social, aparece como uma usurpação da força coletiva e, nas suas conseqüências sociais, como uma usurpação da produção social.

2.- O Estado, apesar de sua complexidade maior, vai apresentar características semelhantes. Ele se as atribui pela fixação de um governo considerado como uma representação exterior da força social, como uma concentração única e hierárquica, que se revela praticamente como um instrumento de dominação, como um monopólio de poderes, como um aparelho repressivo.

A autogestão é a negação da burocracia e da heterogestão que separa artificiamente uma categoria de dirigentes de uma categoria de dirigidos. A autogestão libera a sociedade real das ficções a que se acha submetida.

A proposta teórica de Proudhon, produzida no século passado [XIX], é porém, apenas um marco sobre o qual se pode imaginar as condições efetivas de autogestão, bem como as formas que ela poderá assumir em sociedades contemporâneas.

A importância do trabalho de Proudhon permanece, portanto, como indicador de uma forma de organização social que respeita a liberdade e o pluralismo. Permanece como possibilidade de se ver a organização econômica e política não de cima para baixo, mas, ao contrário, a partir das massas.

A criação de uma sociedade autogestionária não é uma utopia, já que não se trata de uma impossibilidade. Trata-se, isto sim, de algo que incomoda profundamente os detentores do poder.

Em uma sociedade autogestionária não há lugar para burocratas. A proposta autogestionária traz a incerteza para um mundo onde quase todos buscam a certeza.

Esta é a razão pela qual as experiências plenamente autogestionárias não puderam se manter. Enquanto as ideologias do poder procuram ocultar as múltiplas alienações do homem moderno, a proposta autogestionária surge como denúncia, como possibilidade real e radical de transformação social.

Nessa possibilidade está sua grande dificuldade de operacionalização, já que a razão que a sustenta é o contrário da razão do poder.

in:

BUROCRACIA E AUTOGESTÃO (a proposta de Proudhon), de Fernando Claúdio Prestes Motta; editora brasiliense; 1981

extra:

"A burocracia é o principal elemento de um sistema antagônico. Onde existe antagonismo, existe burocracia"
Fernando Prestes Motta

"A educação moderna convencional muito raramente se preocupa com o desenvolvimento da pessoa. Opta, normalmente e com a cumplicidade dos pais ansiosos por filhos bem-sucedidos na "vida", pelo desenvolvimento funcional ou profissional, exacerbando a angústia do adolescente. As instituições educacionais e, de modo especial, a universidade, nasceram como um espaço no qual o mestre formava seus discípulos através da convivência diária. Esse espaço tornou-se uma grande burocracia impessoal em que a convivência é meramente funcional. Busca-se formar boas engrenagens, no melhor dos casos, e não pessoas adultas, maduras individual e socialmente"
Fernando Prestes Motta

"A vida pulsa no sonho, a vida pulsa no mito, a vida pulsa vigorosa na mão daqueles que a reescrevem. O que somos, e, portanto, e muito provavelmente, o que seremos, ganham sentido quando podemos decifrar os grupos, as organizações e as coletividades em geral e, para tanto, é necessário desenvolver percepção, reflexão e capacidade de análise crítica."
Fernando Prestes Motta

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